(Conceição Evaristo)
A voz da minha bisavó ecoou
criança nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
criança nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
Mineira de Belo Horizonte, Conceição Evaristo nasceu em 1946 numa comunidade pobre da capital mineira. Desde muito jovem conciliou trabalho e estudos. Aos 25 anos se mudou para o Rio de Janeiro onde estudou Letras na UFRJ. Ainda no Rio, tornou-se mestra em Literatura Brasileira pela PUC e Doutora em Literatura Comparada pela UFF,
Publicou seu primeiro poema em 1990 no Cadernos Negros do Grupo Quilombhoje. Suas obras abordam essencialmente questões relacionadas ao preconceito racial e de gênero.
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